quinta-feira, 25 de novembro de 2010


O Tudo tem sido breve,
até o encanto da vida.
Um fazer de casa
Um fazer da rua
que se consomi.

Num piscar,
as rugas de canto de olho,
marcam a face.
O tempo devasta
flores que murcham
O tempo devasta
 frutas que apodrecem.

A árvore vira papel e se transforma
num verde já desbotado
bem como a sombra de galhos já decepados.

O passarinho gira pra lá e pra cá 
Seu canto se faz preso ao artefato de metal.

Já não se faz mais amigos como antigamente
Já não se faz mais amores como antigamente
O Antigamente passou e eu não o vi
mas acenei num vazio querendo me alcançar.

Planos? Estou montando uma planta deles...
Ainda os carrego na primeiridade dos sonhos.
Arte de construir os recomeços.

Todo mundo diz que...
um homem feliz tem que ter uma familia
tem que ter um emprego
tem que escrever um livro,
pra dar continuidade a uma história.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tentando...


Tentando ser fiel comigo.
Tentando... em inúmeras tentativas
ser fiel com quem me é.
Tentando na vida
e sendo tentada.
Tento
Tento
Tento.
Tomo tento.
Tentando ficar com Deus
Tentando que ele fique comigo.
O mundo dando voltas e eu tentando sair do lugar...
Ligar e dar a partida.
Tento a primeira
Tento a segunda
Tento a ré
quero retornar à essência.
Teimamos
sem relutar tentamos
"eu ser".

domingo, 21 de novembro de 2010

Corpos em Chamas...

Quem conta, seu males espanta. No meu caso não canto, eu conto. Antes o conto não queria ser escrito, um adormecido.  Então, sinto em ter que começar a revelar de antemão, tudo sobre ela ...a mulher pálida.Sim. Ela, parecia um saco cheio de vento e se estourássemos com as mãos sairia um barulho abafado, substancial e puro. Uma mulher desmaquilada, sem viço, sem vícios. Carregava um sinal de nascença  no antebraço e o nome incomum: Meiridiana.
 Os amigos a chamavam de Meiri. Inexpressiva por muito calar, tinha uma mente fértil mas nem tão abobada para a realidade quanto parecia. Por incrível que pareça, era tão centrada em suas ocupações...
embora não enxergasse, um palmo diante do nariz por tamanha distração. Esquecia casacos, guarda-chuva, trocos com os motoristas de ônibus, trocava os pares das meias, largava os óculos em casa. É. Ela não tinha a graça de uma mulher, talvez porque ainda era menina num corpo que insistia em ser mulher. Sua sexualidade foi alvo de suspeita por um bom tempo...isto porque, ela deixou uma lacuna.
No primeiro dia em que saiu com a turma da faculdade, quis propor uma brincadeira, quis beijar todas as meninas da turma, distribuir selinhos pra todos os lados. Como algumas mais conservadoras não aderiram a brincadeira, sobrou para os rapazes que muito gostaram da ideia. É verdade. Ela manifestava essas vontades repentinas e o mais engraçado, é que ninguém  se preparava para suas ações tolas e impensadas... desbancava muita gente.  Para as pessoas que a observavam, ela era digna de riso, merecedora de um escárnio, de uma zombaria pelas roupas sem combinação. Alguns colares grandes, ela comprava na porta do cursinho e pensava sim estar na moda, com aquele baton rosa-boneca... Meiridiana. No fundo, as pessoas tinham muita pena dela.
Morava com um pai cego e nem todo mundo a conhecia tão bem, exceto Márcio. Um rapaz que a amiga da amiga apresentara. Um sujeito rude, sem  asseios, um militar que apesar da carcaça dura, tinha um grande coração. Se ele a amava? Ah... não sei responder... não dá pra medir essa forma de amor.
Meiri e Márcio saiam juntos nos finais de semana, pegavam sempre a sessão das 18 horas no cinema.O velho Chico, o pai cego de Meiri, gostava do rapaz. Quando não estava de serviço, Márcio ia ao apartamento de Meiri por muitas vezes para ajudar. Fazia todo tipo de conserto doméstico que antes não se resolvia: trocava as lâmpadas queimadas, desentupia as bocas do fogão, consertava tomadas, ventiladores... Mas quem dormia no apartamento de Meiri, não era Márcio e sim, a amiga da faculdade, a Carla. Como ela morava longe, Meiri  a convidou para ficar uns tempos por ali, até concluir o curso.
Meiri e Carla eram estudantes de Letras.Carla era amiga mais recente de Meiri. Se conheceram assim, na sala de aula. Quando Meiri resolveu salvá-la de fazer sozinha um trabalho de linguística, daí em diante, passaram a andar juntas. Carla passou a ser a voz de Meiri e, começou a lhe ensinar um pouco mais da vida. Pegavam a barca, todos os dias para atravessar a Baía de Guanabara e chegar à universidade. E se a barca era R$ 2,80, Carla tinha que ir  sentada. Senão ia reclamando “ Não, eu paguei R$ 2,80”, se sentia sede na rua, não bebia água. Dizia que água é coisa para se tomar em casa, pois não gastava dinheiro com água, na maioria das vezes comprava guaraná natural.
Carla não se preocupava com boa forma, ela tinha um corpo escultural e era genético isso. Saia em companhia de Meiri e os homens da rua mexiam com ela, exalava um ar de mulher fogosa que despertava a imaginação dos machos. Enquanto Meiri, só era chamada a  atenção pelos cadaços dos tênis desamarrados.


Uma noite dessas...


Meiri ficou na faculdade para pesquisar livros na biblioteca. Entregou à Carla as chaves  para ir adiantar o jantar. O velho Chico e seu gato de estimação, o Preto, aguardavam Meiri e Carla.
Carla chegou. Abriu a janela dos fundos da cozinha, cumprimentou:
_Boa noite, seu Chico. Meiri ainda está na faculdade, vim adiantar o jantar.
O cego se aproximou, guiado pelo gato e disse:
_Boa noite, filha. Espero que Meiri não demore porque Márcio já está chegando...enquanto isso...vou me deitar um pouco.
_Ta certo, seu Chico. Respondeu a moça.

Carla terminou de fazer o jantar, foi tomar banho. Em seguida, Márcio entra ao ver a porta da cozinha encostada. Senti o cheiro da comida, pensa ...Meiri está no banho e o Chico deitado.
Foi para o quarto e ficou aguardando... Cansado, tirou as botas e deitou na cama, cochilou...
Carla saiu do banho e viu, de luz apagada o corpo de Márcio espesso na cama de Meiri. Se aproximou, levou às mãos ao peito dele por debaixo da camiseta...ele despertou e viu a sombra de mulher se arrastando pelo seu corpo...e murmurou...Meiri? E ela respondeu-lhe ao pé do ouvido:
_Carla...
 O beijou. Ele tentou resistir,  segurando-a pelos braços disse:
_Como ousa?
Então, Carla, fez cair a toalha presa ao corpo e roçou entre as pernas do rapaz, deitada sobre ele. O instinto da pele o atraiu...Márcio se rendeu às provocações da moça, que arrancava-lhe o cinto e as calças...ele murmurava, quase que inconsciente...Vadia...Vadia.
Nesse instante, com a porta entreaberta, Preto passou... sentou no chão como se assistisse à cena. Carla e Márcio transavam no escuro. Entre o ranger da porta, o velho Chico se aproximava atrás do gato...o cego ouviu a voz de Márcio ofegante quando enfiava, dizendo: Quieta, geme baixo, sua vadia...
Chico parou no corredor. Pensou. Quem será que...
Com ímpeto, iria tocar a maçaneta da porta mas antes, lembrou-se...Meiri não está. É ela.
A campainha toca e é Meiri. Márcio correu pelos fundos e foi embora. Carla se vestiu e foi atender. Chico e o gato se recolheram para o quarto.
_Imagina que acabei demorando, Carla. Não encontrava os livros de sociolinguistica.
_Eu fiz o jantar, Meiri. Estava te esperando.
_Cadê, o pai? Pai!! e gato? Preto, venha cá!
_ Estão no quarto...
_Vou acordá-los. E Márcio? Sabe se ele ligou?
_ Não.
_ Ele disse que passaria aqui mais tarde...
***
Outra noite dessas...
 O velho Chico, pensava...por saber demais. Queria contar a filha e decidiu. Hoje conto tudinho a Meiri...
Fumou o cigarro de palha e o apertou  mal apagado no cinzeiro. Sentado na banqueta da cozinha, o telefone tocou e ele se levantou apressadamente pra atender. Preto, brincava com um pano sob a mesa.
_Alô. Oi, filha...Está tudo bem...Até que horas a aula? Hum...
Preto era gato travesso, se aproveitava da fragilidade do velho e fazia suas bagunças. Viu que seu dono, se distraia com a ligação e subiu na banqueta. Foi até a mesa para poder alcançar a panela e  as sobras do almoço. Destapando-a, quis se fartar de um pedaço de peixe. Esbarrou no cinzeiro, fez cair o cigarro mal apagado sobre o pano no chão.
_ Ta bom então, filha. Ah, antes que eu esqueça. Ao chegar, passe no meu quarto, precisamos conversar. Ahn? A ta. A ta. To entendendo...
***
Droga! Elevador enguiçado... Disse consigo mesmo Márcio. Tomou a direção das escadas.
Pensava alto...preciso contar a Meiri. Isso está me incomodando, não posso enganá-la... Mas como contar?Ahn...
Logo, atrás dele, vinha Carla.
_ Te vi pegar o caminho das escadas, vim te seguir.
_ Não enche, garota! Acha pouco o que fez?
_Fizemos, né. Aconteceu (risos). E foi bom...
_ Sai de perto! Vou contar tudo pra Meiri hoje...
_Vai? Vai dizer que ta arrependido? E parou na frente de Márcio que subia as escadas.
_ Sai da minha frente!
_ Sabe que...é excitante transar na escada. Balbuciou no ouvido do rapaz e continou a dizer; _ A qualquer hora alguém pode chegar...
_Sai senão...
_Senão o quê?
Márcio empurrou Carla. Ela caiu de lado entre os degraus, levantou a metade do corpo e puxou Márcio para sua direção. Segurando as alças da camisa, arrastou o rosto contra o dele e disse:
_Quero ver você resistir agora...E começou a tirar a roupa dele. Carla fazia sexo com os olhos...
Márcio perdeu o controle arrastou o corpo de Carla para perto da parede e...começou a possuí-la. Os dois pareciam animais lúbricos saciando seus desejos...Corpos em chamas.
Foi quando a luz do prédio caiu e Márcio atinou que algo de errado estava acontecendo.
***
Em pouco tempo...as chamas se alastraram na cozinha.
O velho Chico, desligou o telefone e saiu a procurar o bichano. Preto, venha cá! Ao se deslocar, Chico sentiu que ao redor dele tudo queimava e começou a gritar: Aí meu Deus, é fogo!
_Socorro!!
Os moradores não sabiam o que fazer... a luz do prédio havia caído e não tinham como enxergar direito.
Márcio e Carla se vestiram no escuro, perceberam vultos se aproximando com lanternas, correndo...
Alguns moradores que tentavam sair do prédio...corriam entre as escadas, e no desespero, ninguém sabia quem era quem... Só repetiam apavorados: _ Fogo! Está pegando fogo! Liguem para o bombeiro!
Márcio se lembrou do cego dentro do apartamento. Meu Deus, o velho Chico!
_Tenho que salvá-lo.
_ Vamos sair daqui, Márcio. Por mais que queira, não conseguirá alcançá-lo. É quarto andar.
_ Cala boca, garota! A culpa é sua...se você não me prendesse aqui...eu tinha chegado lá.
_ Você tá louco! Vamos embora, cof,cof...(começou a tossir). A fumaça invadia a escada e a visão, já ficava turva...
Imediatamente, Carla puxou Márcio fazendo-o seguir a lanterna do vizinho que descia apressadamente. Márcio gritava, desesperado: _ Meu Deus! Alguém preste socorro, alguém! Tem um cego lá preso no quarto andar. Já acionamos os bombeiros.  Vamos embora daqui, moço! Disse uma voz no corredor.
Márcio soltou a mão de Carla. E voltou por entre os degraus escuros tomando uma das lanternas das mãos do morador. Tentou subir correndo. O vizinho, gritou: Seu louco! Não vê que não conseguirá salvá-lo.
***
Meiri cruzava a esquina do prédio. A passagem estava interditada pela equipe de emergência. Os bombeiros subiam os andares... um a um verificando se havia pessoas no apartamento. Foi quando subiram no quarto andar e encontraram o corpo do velho Chico carbonizado junto a porta dos fundos. Viram também o gato no parapeito da janela e o salvaram.
_Me deixem passar! Eu preciso passar, meu pai está lá dentro! Ele é deficiente visual, deve estar com dificuldades de sair, pouco sai de casa e vive acamado. Por piedade.
_Lamento, moça. Vou deixar você passar mas não garanto que existam sobreviventes dentro do edifício.
Um dos bombeiros trouxe Preto nas mãos, com algumas queimaduras. E Meiri o reconheceu.
_Meu gato. Me dá ele. E o meu pai? Você entrou lá e o salvou? Cadê o meu pai?
_Senhorita se acalme. O seu pai foi encontrado, infelizmente ele não sobreviveu.
O bombeiro tentou acalmar o choro de Meiri e não conseguiu conter seu desespero. Descontrolada, a moça queria a todo custo entrar no apartamento. Os paramédicos a levaram para dentro da ambulância e lhe aplicaram um sedativo.
***
_Ei, rapaz. Levanta!Venha, eu vou te ajudar.
Márcio foi encontrado nas escadas pelos bombeiros. Um pedaço da pilastra tinha acertado em cheio sua cabeça. O que o fez ficar desmaiado por alguns minutos antes dos bombeiros prestarem socorro. O rapaz tinha engolido muita fumaça e por isso, ele foi levado pela ambulância.
Carla viu quando tiraram Márcio do edifício. Chamou um táxi, pediu para seguir a ambulância.
No hospital, sedada, Meiri estava deitada em um leito perto de Márcio e de outros acidentados.
Meiri abriu os olhos, e viu Márcio segurando suas mãos à beira da cama. O rapaz tinha uma faixa de gase enrolada na cabeça, por conta dos ferimentos e pontos que levou, por sorte esses ferimentos, eram superficiais descartando a possibilidade de traumatismo craniano. Márcio tinha um curativo sobre a região da testa, próxima ao supercílio, recebeu dez pontos perto do olho esquerdo mas não chegou a atingir a visão.
_Meiri, eu estou aqui. Sou eu, Márcio.
_Márcio...eu quero sair daqui. Preciso ver meu pai, tratar de enterrá-lo.
_ Calma. Eu pedi que Carla fosse até a capela. Ela não é da família e provavelmente não irá assinar os papéis. Mas não se preocupe, eu tenho uma importância no banco. Vamos a funerária.
_ Está em condições de resolver? Como se senti?
_ Destruída. Meu apartamento, minhas coisas...minha vida. O que farei? Pior que isso, é ficar sem meu pai... E saltaram lágrimas seguidamente de seus olhos.
_ Meiri, presta atenção. Eu vou...
_ Olha pra você, Márcio. Está machucado, você chegou a tentar subir no apartamento?
_ Eu na verdade...tentei. Ahn...eu tentei salvar seu pai. Sinto muito, eu tentei. Quando soube que o prédio estava em chamas, eu...subi pelas escadas e a fumaça me tonteou e eu subia, queria salvar o Chico. Nesse momento senti a pancada e desmaiei, não vi mais nada.Os bombeiros disseram que eu estava desmaiado na escada, ferido, uma pilastra derrubou na minha cabeça e escureceu tudo. Meiri! Eu queria salvar seu pai, eu sinto muito, não consegui... Disse o rapaz em prantos, mas contido. E assim, retomou a fala:
_Meiri, eu vou cuidar de você. Não se preocupe, eu prometo. Devo isso a seu pai, eu  não o salvei.
_ Para com isso...não se culpe. Foi uma tragédia, um infortúnio, uma fatalidade...Ah, meu Deus...papai não merecia isto...e iníciou um choro bem mais intenso.
_ Já disse, Meiri. Vou cuidar de você. Se acalme. Terá que ser forte. Carla passará a noite no funeral. Amanhã iremos até lá.
***
Passado uns meses, entrei pela Avenida das Flores. Vi o prédio reformado e o movimento de alguns moradores que retornavam...Meiri era um deles, tinha o apartamento no seguro. Já fazia tempo que eu não a via, desde o enterro de seu pai. Soube que após a tragédia, ela viveu  na casa de Márcio. 
Depois de tanto tempo, os dois retornavam ao edifício marcado de tantas recordações. Márcio estava pintando o apartamento, Meiri parecia estar se refazendo, tocando a vida com o apoio do rapaz. Ela ainda não havia retornado a faculdade e por isso, não encontrara com Carla. Perdeu o semestre.
Quando o apartamento ficou pronto, Meiri retornou. Ainda com poucos móveis, havia recebido o seguro e tinha a pensão de seu pai. Curioso é que, ela regressou e Preto reapareceu na porta do edifício. Meiri o reconheceu, colocou o bichano para dentro e deu comida. Depois de Preto, Carla também apareceu no apartamento. Foi visitá-la. Em momento de fragilidade, Meiri pediu a amiga que voltasse a morar com ela para não se sentir sozinha.
Márcio não esperava por isso. Quando retornou do serviço, viu que novamente Carla estava ali para tentá-lo. E assim, o conto continua...
Meiri, Márcio e Carla. Os três sob o mesmo teto e o Preto entre eles. Márcio amava Meiri e queria se casar ou pelo menos pensava que amava. De outro lado, Carla não descolava. Queria a todo custo o rapaz e o cegava de desejo....

Caro, leitor fadigada pelo final desse conto, andei por entre as linhas embora elas parecessem circulares.O destino dessas personagens, agora é seu se preferires. Chegastes ao final da leitura do conto, mas não dá história. Conte-me  a continuidade da trama... e opinem!
.......................................Aguardo o completar desta, em seus comentários.
Andréa de Azevedo.