quarta-feira, 23 de julho de 2008

Na insônia filha da puta da noite acabo brincando de ser escritora que não sou. E o que vou ganhar? Um aplauso mudo do meu ego? Nem isso. Talvez algumas mentes curiosas me leiam. Que essas palavras levem meu sonhos, pois o meu sono se foi. Escrever... sem chegar a lugar algum é... mais um ato solitário de minha parte. E si devo ou não, ninguém disse. Tenho o sono perdido, acendo uma vela para confabular com a sombra da chama. Vai parecer que falo sozinha, vai parecer insano. Mas o que conto, não sei bem dizer, costuro palavras. Pessoas acreditam em inspiração: o fato criado e um autor. Inspiração é mito. Não vou definir de verdade. Prefiro o improvável, tenho gosto pelo que não vejo. A vela me olha e se encurva com o vento que nela bate. Quero impedir que sua chama me queime porque estamos muito próximas. Reflito... e a vela reflete. A sua imagem sem rosto vaga em meu pensamento como uma personagem do inconsciente. No inconsciente, existem desejos algemados que desconheço e reencontro talvez quando sonho. Tenho alucinações... a cama fica marcada pelo espaço de um corpo que ali não se deita mais. São três horas. A vela está acesa e o céu já começa clarear, ouço a gota d’água pingando da bica de casa, ouço o silêncio. Não vivo somente de descrever impressões. Quero escrever, mas não como ritual. Quero escrever sem pensar em sintagmas e concordâncias. Quero escrever sem a precisão de um poeta parnasiano. Vamos deixar de questionar a existência, isso já se desgastou. Reflito e a vela reflete... como se guardasse respostas. Nem tudo que é questionável apresenta respostas. Então, apago a vela e o sinal da interrupção surge.

Andréa de Azevedo.