quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Uma crônica para o fim do ano

Caro, leitor!
Estou me despedindo de 2009. E por incrível que pareça, não estou preparada para o Natal.
Tantos preparativos para comilança da noite. Pessoas que não vimos o ano todo estarão ao redor da mesa dando aquele tapinha no ombro dizendo: "Feliz Natal". Encontros forçados que temos com a parentada da tia, da irmã, da mãe do primo de segundo grau...Além dos presentes "entes queridos", um "Amigo oculto". Presentes chulos recebidos (risos) sabonete, toalha de prato, brinco do camelô, calculadora, gravata, óculos de sol por aí vai...Fico cansada só de vê. E tenho que esperar 00:00 pra poder cortar o peru, o chester, o pernil, o que preferir. Nem todos lembram de ser cristãos. Estão ocupados demais com a rabanada, com o champanhe para estourar...E Jesus? Surgiram tantos ateus...d.C (depois de Cristo). Era Cristã...eram cristãos? Ou não eram? Dia 25 de dezembro comemoração optativa: Nascimento de Jesus.
Fim de ano, caro leitor. Fim da linha. O último texto. O último diálogo que travo comigo e com os (as) senhores (as) que insistem em ler meus disparates. O fim de projetos e o prenúncio de outros.
As promessas que fazemos para o próximo ano. E ao mesmo tempo, breves recordações...retrospectos: sorrisos, perdas, suor, cheiro, fome, vontade, amizade, travessia, descaminhos, amores... O inacabado e o concluído... dissabores, conquistas, imensidão, necessidades. É... careci de tudo.
Um saco cheio de minúcias. O saco do papai Noel que passou no ano 2009, esvaziou. Atenção! Vá encher o de 2010! Estou me repetindo...é o contexto. Me surpreendo com o isso. Conheço um poeta que é temático. Escreve em datas comemorativas como que forçosamente. Vamos lá...poema para o dia do município, poema para a natureza, poema de Natal. (risos) Quem o conhece, sabe que estou citando este senhor temático com respeito mas com animosidade. Isto porque, sou atemática. Não escrevo com pretensões. "Ah...hoje é Natal farei um poema de Natal. " Não, a intenção não foi essa. Veja só o que surge nessa minha divagação...não tem rigor de datas...nem rompi o ano. Estou rompendo comigo mesma. Pesando, pensando até com uma ponta de saudosismo, tudo que me aconteceu este ano. Já disse aqui neste blog que não sei lidar com perdas. Por isso, não quero dar adeus as coisas que já me escaparam das mãos.
Desde criança eu recortava figuras nas revistas. Aquelas que mais me atraiam. E não precisava ter tanta pompa. Eram figuras. Imagens simples. E é isso que faço nesse instante que me mantenho. Eu recorto minhas melhores lembranças de 2009. Dessa gente que fica, eu...recorto as melhores caras, as melhores situações, os melhores sentimentos. E não as deixo passar. Retenho-as na memória. Eu brigo com à memória. Escolho a melhor imagem. Gravo o tom de voz e as palavras que proferiram. Os olhares, os gestos. Sou apegada. Apegada aos meus que amo tanto. Peço que fiquem comigo. Ah... queridos, vocês se vão na poeira do asfalto. Retenho o melhor de vocês. E ainda sim...Considero-me seletiva.
Um texto de final de ano, de papai Noel de trenó...isto está no plano do fantástico. Crio meus personagens e se o bom velhinho é persona, personagem o quero nesses instantes. Já disse que sou apegada. E não esqueçam: _ Sou atemática, porra! Estou me repetindo...é o contexto. É momento, época e ano novíssimo que chega.

24/12/2009 / 25/12/2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Flores



Flores?

De vez em quando...buquês.
Por muitos anos eu ouvi que...

_Flores, pra quê? Se elas murcham!
Aquelas então que os ambulantes
vendem na porta do cinema
ou no barzinho
são troféus de puta.
(Isso ele me dizia).

Ah...muitas pétalas eu guardei...
até as que não tive,
mesmo que murchas
mesmo que despedaçadas.

Flores preferidas?
Margaridas.
De vez em quando as colhi nos campos
que passei...
fiz bem-me-quer, malmequer,
bem-me-quer, malmequer...
deve ser por isso que nunca as recebi
de um rapaz.

Eu as despetalava.
Despetaladora de margaridas. (risos)
Ninguém nunca me presenteou com uma delas.
Via as artificiais, as naturais,
nas vitrines, nas floriculturas,
nas calçadas, nos enfeites, nos jardins...

Despetaladora de margaridas.
E algumas rosas do passado,
espinhos que cortam as mãos...

Flores pelo caminho?
De vez em quando,
muito de vez em quando
buquês...
vasos solitários...
Um dia...quem sabe. Para enfeitar o colchão delas
e amar entre as pétalas...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

c
a
s
c
a
t
a
s aboresss...
s aberesss...
s ede
s entisss...
s edento
s aciasss...
s
s
s
.
.
.

domingo, 25 de outubro de 2009













Coração metálico

Voltei para o mar e era dia.
A paz da manhã parecia me escutar...
Não havia lágrimas desta vez,
nem um coração aos pulos.
Tudo aqui é tão perfeito...
Vejo os prédios de longe
e até o Cristo tenta me abraçar.
É só um quadro,
de perto, está cheio de borrões.
Sou maquiada
unhas pintadas
o dever de manter
aparências.
Monólogo meu...
ficarei acanhada em dizer
retenho à memória
umas palavras
e elas logo se soltam
e me voam entrecortadas...
Cabeça nas nuvens
pés no chão.
Coração metálico
meu gesto mecânico, contido
insistindo em pulsar...


16/09/2002 Reformulado 25/10/2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Versos teus, versos meus.


Crescer com a virtude de não ser
E ser a virtude do que permanece.
Lutar com armas limpas e claras
E forjar a luz de cada amanhecer.
Cantar musas em versos e prosas
Celebrar a confusão de prosódias
E a lucidez da loucura de cada dia. (Fabiano Silmes)

Sem decorar sextilhas e redondilhas
Andei sem rumos. Quebrei os pactos.
E se me compactuava as normas e as métricas,
dantes as pretendias
desde o verso inicial em parceria.
Mas não sou poeta que segui à risca
aquilo que regula meus princípios. Minha arte.
Sou poeta! Com armas limpas e claras.
Atiro meus versos com essa tinta que se esgota.
E a lucidez da loucura de cada dia se finda. (Andréa de Azevedo)

sábado, 26 de setembro de 2009

Não gosto de passos longos

nem sempre são grandes passos.

Prefiro passos curtos

bem idealizados.

É na ponta dos pés

que guardo o equilíbrio

e a sabedoria concedida.

01/08/2001.

terça-feira, 22 de setembro de 2009


É desejo

devaneio

de um coração

derradeiro

de uma paixão

em neon

piscando:

ILUSÃO
ILUSÃO ILUSÃO

ILUSÃO
ILUSÃO ILUSÃO


10/09/2000

quarta-feira, 16 de setembro de 2009


Lata d' água na cabeça


Na estrada de chão No sol escaldante
As mulherem sobem As mulheres descem
Lata d' água na cabeça! Mãe do lado dizendo:

_Ande que tem mais lata pra pegá, menino divagá!

Seguem arrastando os passos Erguendo suas cambucas
Não tem bica Não tem ducha
Graças ao Bom Deus Tem água pra encher a lata
porque dia desses por ali...Tinha lata vazia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Face.

Desde de garota sempre quis tocar que nem Renato Russo. Mas descobri que ele não tocava tanto assim, suas letras nutriam minhas ansiedades, meus destemperos, meus amores...como se eu lesse meu diário em voz alta. Sim desde garota... eu quis ser jornalista e entrevistar as pessoas. Acabei professora. Quando vou à livraria, o livreiro me diz que vende meus sonhos. Meus sonhos...eu trabalho com lendas...livros são minha maior vaidade. Eu me apego a eles, eu choro com eles e dou risada. Acho todo enredo bem mais interessante do que minha vida.
Não. A minha intenção é... não foi essa. Eu quis sim comprar o sapato da moda, algumas bijus pra me enfeitar. E a economia, a terça parte dela é dos livros. E está todo mundo ocupado, inclusive eu, que não possa ler essas "tonterías". Outra coisa que me esqueci de dizer...eu já lecionei espanhol e eu adorava. E por que não adoro mais? Eu descobri que meu paladar muda e me conflita. Outra coisa também me disseram depois de eu ter me tornado professora. Me disseram que eu não sei escrever. Pode ser. Tem dias que eu acordo e nem quero escrever mas tenho que fazê-lo. Talvez nesses dias que eu acordo sem tesão nenhum pra coisa, eu realmente deva decepcionar. Decepcionar os mestres, os alunos, os poetas e toda patota que me lê. Ora por piedade, ora pra me entender eles estão me lendo.
A cidade respira, as pessoas transitam... e pensar essas coisas passa a ser bobagem de uma mente fértil. Eu sei. Tropeço com palavras. Quero entender quando não é necessário dizer. E o que eu digo é a mais pura verdade! Não estou nem um pouco afim de te impressionar. Quem me conhece sabe que talhar palavras na mármore úmida, me agrada. Expulsam os demônios que me atormentam. Por isso, meus caros, pouco importam as críticas e os enxovalhos que recebo de cara. A mesma face que recebe o tapa sentirá o beijo.
Falando em beijo, meus amantes até aqui também não foram grandes coisas pra mim. Penso que outros virão. E um ficará eterno. Já quis comemorar 15 anos com par, dia dos namorados com flores e também já chorei em festa de casamento sonhando com o meu. Já tomei meus porres e prometi sucessivas vezes que pararia de beber. Deve ser por isso que sou melancólica em fases que atravesso. Mas não pensem que não sou feliz. A felicidade renasce depois das longas caminhadas que deixaram calos nos pés. Digo, calo nos pés, porque tem dias que ando kilometros em busca de meu caminho.
Sou jovem demais ainda para cair no enfado das lições. Não era bem uma mensagem que eu queria deixar era apenas eu. Um pouco de eu. Porque o outro restante, está por vir...

sábado, 23 de maio de 2009

Marca autoral

Ser escritora é ter uma alma penada solta pela noite. É ficar em transe por alguns segundos de ficção... Eis me aqui, meus caros! O conto nasceu prematuro após 6 meses de formação e ainda está sujeito a alterações. Não se acanhem e puxem logo essas gavetas para opinar!!! Quero sugestões nesses comentários.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O catedrático

Ele me faz ocultar segredos que nem aos pés do oratório devo eu confessar. Mas por inquietude de minh’alma revolveu-me o que se passa nos recônditos da mente e do espírito... e o resguardo, foi desfeito. Devo eu fazer um relato circunstanciado de sua pessoa? Quase isso...Ele era homem distinto e tinha sobriedade no trajar. Lembro-me bem... dos fios de cabelos ruivos, a barba aparada. Uma pele tão alva quanto a cor da camisa. E se quisesse fazia se passar por alemão, mas era apenas um brasileiro descendente. A impressão que eu tinha era que seu andar não escapava a observação das alunas e quando ele parava por alguns segundos, parecia sim pousar para fotos. Percebi que mantinha o grau da formalidade e por isso a polidez e o rigor o acompanhavam. Empregava termos inusuais, mas não tinha um discurso pretensioso.
Lecionava filosofia. E fora de sala de aula fazia seus comentários sobre o movimento da vida, do ser, da essência do ser... sua linha de estudos, estava entrelaçada em Heidegger. Suas discussões também envolviam Nietzsche, Sartre... E não escondia seu encantamento pela literatura alemã apreciava Schiller, Goethe e revelava-se um admirador da poesia de Rainer Rilke, poeta que compartilhou um amor louco pela Salomé, a mesma que Wagner e Nietzsche, amaram.
Em uma dessas conversas, fora de sala de aula, nos pegamos sem reservas a compartilhar nossos gostos por literaturas. E fui eu quem disse:
_ Professor, adoro Leminski e Clarice Lispector. Sempre que posso vou a um sarau de poesias. Sou a amante do vinho, do queijo, do violão e da poesia! E ele me sorriu.
Disse-me que tinha um ciclo de estudos com alguns autores de literatura, vaidosamente mencionou sua participação como escritor.
Quando terminei o curso de filosofia trocamos e-mails e números de telefones. Ele me convidou para ir ao lançamento de seu terceiro livro em parceria com outros autores. Cogitei... Talvez não o encontrasse no tumulto, pois ele ia pousar para as fotos, fazer suas dedicatórias, dar seus autógrafos e entrevistas. Não fui ao seu encontro. A chuva forte me prendeu em casa. Apoiei-me nesse pretexto. Talvez eu me acovardava, talvez eu adiasse o que estava por vir. E logo nos vimos no corredor da faculdade, entre uma sala e outra... a relação professor e aluna se perdeu e deu lugar a uma afinidade.
Chamava-me sempre para ir até a porta da sala, no término de suas aulas, entre uma aula e outra, nos intervalos. Conversávamos sobre assuntos diversos, sempre me encantando com livros de presente. É... Eu me envolvia. Nós nos envolvíamos. Até que o primeiro encontro foi sugerido feito convite quando me pegou a mão. E fui eu quem disse nada acanhada com sorriso nos lábios:
_ Professor, por que sempre me convida para lançamentos de livros? E não me convida para tomarmos um vinho?
(Risos). E ele respondeu:
_É verdade. E você, nunca apareceu nos lançamentos! Podemos ir ao calçadão assistir ao Encontro dos poetas e logo depois...
_ E logo depois?
(Risos).
_ Então, aceita tomar um bom vinho comigo?
Neste momento se lhes tateassem as maças de seu rosto sentiriam como elas estavam quentes. Suas feições de alemão se misturavam em um rosto ruborizado, ele não soube desviar seu olhar. O que refletiu também em mim porque apesar do meu jeito falante, sempre disfarcei a tal timidez que às vezes me atrapalhava. Sim. Pensei por um instante na insinuação que fiz. Não sei se cheguei a causar um eventual constrangimento. Teria sido somente impressão minha?
Minha ousadia havia despertado mais a vontade de estarmos juntos. Vontade muito maior do que antes. E esse encontro existiu. Esses encontros foram se repetindo...
Paixão?! Fetiche de aluna e professor.
Certa vez...
Tocou-me com as pontas dos dedos lentamente...É assim que se toca uma mulher como você! Fitando-me com olhos excitados fiz cair todo vestuário... Duas taças de sorvete de creme derretiam-se na cabeceira da cama, nos inquietávamos. Suas mãos estavam ocupadas. Seu corpo queria ocupar. Corpo nu e o sorvete derramado que penetra a derme. A língua se arrastava nervosamente na nuca e vinha percorrendo desde a ponta da orelha ao contorno dos mamilos até poder chegar a cavidade dos membros que se abriam...
Da preliminar à intimidade...Da carne trêmula à deslocação... Despidos estávamos. Entre uivos e gemidos histéricos repetia-se simultaneamente o ritmo regular da dança dos corpos... Por um momento, seu corpo estremeceu agitado e caiu sobre a cama. Corpo lânguido, espesso, fronte suada... e assim veio repousar a cabeça em meu ventre sem dizer uma palavra. E tornou a suceder outras vezes esses instantes... Ato após ato, eu me aninhava em seu peito prometendo esquecer o mundo que continuava lá fora.
Por vezes, nossos encontros tornaram-se atrativos. Visitamos as exposições de Debret e restaurantes de pratos requintados da cozinha alemã. Passeávamos de bonde em Santa Tereza. Andávamos de mãos dadas, feitos dois namorados pela Chácara do Céu para contemplarmos a melhor vista do Rio de Janeiro. Mas e o vinho que não tomamos? No restaurante, ele assinou um cartão dizendo assim:
Lembranças do dia em que não tomamos vinho.
Ass.: R.K.

E o brinde, não foi adiado. Na outra ocasião, brindávamos ao sentimento que nos unia e as verdades que ainda não tínhamos. Ele apanhou a rolha do vinho e uma caneta de bolso, gravou na rolha a seguinte mensagem: In vino Veritas.
No vinho está a verdade! A embriaguez soltaria a língua e faria as verdades virem? Nem por tanto tempo senti as verdades que julgava descobrir. Ele me dizia ao final de nossos encontros:
_Lembra. E na primeira vez que ouvi perguntei:
_Lembra de quê?
Ele respondeu:
_ De lembrar. Erinnst.
***
Passado alguns dias, recebi um cartão postal pelo correio que me dizia assim:

Parti apressadamente para Alemanha,
na condição de cumprir o doutorado.
Quis evitar despedidas.
R.K.

Nada soube dele neste período e devia regressar a Universidade. E quando? Eu me angustiava de leve impressão dele... o vento que passou por mim. Tenho cá minhas dúvidas. Era quase amor. Sei que me foi uma travessura, uma traquinice dessas que a gente faz escondido e com gosto.
Não, não parei de lembrar. E seu telefone não me dava sinal. Aprendi a chorar quieta e de luz apagada, sentir no rosto as lágrimas que rolavam quentes. O cartão postal, eu passei a não ler mais. Todas as vezes que o fazia me vinha o mal estar. Talvez quem me lê lance suas pequenas desconfianças...
Segui de férias. Espaço de um tempo que vigorou pouco, logo retornei. E não demorou muito para obter notícias de meu professor. Fui ao departamento saber a respeito dele e foi aí que me contaram.
_Bom dia! Por favor, me ajude! Precisava falar com o professor de filosofia. Quando ele vem dar aula?
_ A senhorita é aluna?
_Sim.
_Ele foi para Alemanha terminar o doutorado. Viveu no país durante esse período, mas ocorreu uma fatalidade. Ainda não sabemos quem vai substituir na disciplina.
_O que aconteceu? Me diga!? O que houve com o professor? Eu insisto!
_ Não podemos dar informações a respeito disso ainda. Por que está tão aflita?
_ É que por Deus, ele não é só meu professor é também... meu amigo e... é isso estou preocupada. A senhora disse que ocorreu uma fatalidade? Por favor, não me esconda!
_É melhor se sentar, por favor.
_ Diga-me o que houve?
_Ele faleceu. Foi assassinado com dois tiros no peito por um grupo extrema direita adepto à xenofobia, o preconceito ao estrangeiro. Eles o atacaram na saída de uma livraria.
Tentei me levantar da cadeira foi quando a vista escureceu. Cai desmaiada.
Tive a perda passageira dos sentidos mas fui socorrida na Universidade. Acordei em um quarto de hospital parecia que eu tinha levado umas pancadas. O corpo me doia todo, eu queimava de febre altíssima! Mamãe veio tomar conta de mim porque estava delirante demais por conta da febre.
Disse minha mãe que naquela noite eu saculejava na cama abatida e repetia de maneira confusa umas palavras. Balbuciava seguidamente quase uns versos assim: "Mil dores físicas do que a dor de um amor perdido..."
***
Levei uns dias de recuperação. Quando retornei para casa, mais um cartão postal me aguardava da Alemanha. Eu abri mas antes vi no envelope uma mensagem dos correios esclarecendo que houve atraso de entrega devido ao período de greve. Abri e ali estava uma mensagem de meu professor, a última que eu receberia que dizia assim:
Não! Não estou escrevendo para justificar. E nem para citar frases de Ovídio (A arte de Amar).
Escrevo-lhe com a audácia de um amante que teima em lembrar.
Volto essa semana para podermos tomar o nosso vinho. Quero o meu abrigo, aqui faz tanto frio!
Parti. Parte de mim fica em ti. Parte de ti fica em mim.
Lembra. Erinnst.
R.K.

Ele tinha mesmo a razão ao escrever umas palavras. Parte dele ficou em mim... não foi somente a gestação de uns versos ou coisa que valha. Quando fazíamos amor e depois eu chegava em casa, ainda ficava empreguinada dele...minha pele exalava esse cheiro. Mas não é bem isso que eu ia dizer. O que eu ia dizer é que parte dele ficou em mim sim. Quando tomei alta do hospital me veio a revelação e era mais que uma boa nova. Estou grávida.
Grávida? Grávida! Ohh... grávida!! O mundo me dizia. Um fruto maturando em meu ventre...Sim.
Eu não deixei de lembrar. Erinnst.
Ps: Início em 28/11/08, término 15/05/09. Ainda sujeito a alterações.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO AUTOR.

quarta-feira, 13 de maio de 2009


Uma pena escreve suas declarações carregadas de sopro criador. Precisamos de ouvintes, precisamos de leitores. Interessados são somente aqueles que tem paixão e não se importam com a impressão que se pode causar. Esses sim são levados pelo balanço do ritmo, pelas palavras que dançam na sutileza do movimento da pena.
De hora em hora, a pena é molhada no tinteiro e respinga no papel novas ideias que compõem centenas de sentenças numa magia categórica e desesperada. Nem sempre ela pedi a compreensão de todos para não ser medida. Curioso é que apesar da pluma, ela é afiada e engenhosa no recorte de certos moldes chamados de versos. Salta dos nossos olhos cada um dos versos como se descessem os degraus de uma escada, até o seu último, o ponto final .
Ciente de que terminou.
06/12/05

segunda-feira, 20 de abril de 2009



Sou detalhista demais para avaliar os limites da perfeição.
07/02/2001.

domingo, 19 de abril de 2009

Perdoar o mesmo erro é cobrir-se a uma longa colcha de retalhos,
é estar cercado de muitos remendos e buracos que precisam ser costurados.

sexta-feira, 17 de abril de 2009


Cata vento.
Catavento.
Cata-vento.

Voa leve em movimento
um tempo

logo cato
cacos de momentos
cato breves pensamentos...

Giro ao sabor do vento
sou o eixo de ponteiros
desse arco. Cata, vento!

Cata vento.
Catavento.
Cata-vento.

No canto o vento
sopra leve Cata-vento.

sopra leve
cata, o vento!

sábado, 11 de abril de 2009

Verso barato

Na minha poesia eu pinto quadros
que já vi
que nunca vi.
Prescrevo imagens alucinadas

e sombra de cores.
Restos de tintas pintam
esse mundo polido pelos homens.
Sorrateiramente, elevo a palavra
dou forma e visão de fatos.
Trago o verso barato
sem querer encantar.
O que importa é expressar
essa palavra que não cala.

23/09/2005

domingo, 29 de março de 2009

Penso e logo faço.
Sou o imediato.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Pensando en ti

En ese momento pienso en ti.
Sé que no haces lo mismo,
pero, sólo, me viene a la cabeza
tu imagen...
tu mirada...
quiero hundirme en él.
Es semejante al mar
hondo y atrayente
Y tu boca...
labios carnudos...
soňe en besarlos
pero, antes de lograr
tocar en tu superfície
desperté, “desorientada”.
Como puedo conformarme
en tener solamente tu foto
cerca de la mesita de la cama?
Quiero tenerte a mi lado
Toda vez que me der la gana
Y decirte siempre
En tu oído, bajito
Te quiero...
3/05/1999 Antiga!!!

sábado, 21 de março de 2009

À bacante.

Às vezes me meto em multidões
nem sempre ando em círculos de pessoas
Às vezes me pego em noites perdidas
que um copo de vinho ousar a animar.
Sonhos cadentes evaporam da mente
às vezes é só poesia
às vezes é só putaria
às vezes é nada.
O mundo me engole
por querer ser tão intensa
às vezes me meto a olhar o intocável
sem medir o espaço do que quero
.
26/02/2007

sexta-feira, 20 de março de 2009

Criatura

Sou um vulto de indagações
Uma caricatura de menina, de mulher...
Uma voz imortal em seu discurso
Uma obra criada à moldura
Sou a criatura.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O escritório

O dia começa aqui no Rio de Janeiro. Sol que brilha e incide raios de esperança. Pelas ruas, quadros pintados à mão, buquês de rosas desabrochando e o som do saxofone tocado por um desconhecido de calçada, melodia que compõe a beleza dos pássaros riscando o céu azul.
As buzinas dos carros insistentes soavam diante dos semáforos: uma breve imagem que alterna as cores verde e vermelha. Curiosamente, as pessoas apressavam os passos, talvez para não perderem a hora.
Com poucas moedas no bolso, eu ia em direção aos comércios, as agências de emprego. Bati de porta em porta e fiz propostas, eu ouvi condições e não certezas. Comi o pão de queijo barato da esquina e distribui currículos até voltar de pasta vazia. Nenhum telefonema convidativo, eu caminhava pela rua quase que a insistir na necessidade de uma chance que valia conquistar, foi quando vi papéis voando sobre a mesa de um escritório de esquina assim como eu voava nos pensamentos... Olhei pelo vidro janela.
No escritório, ao lado de um bebedouro velho, havia um homem com a cara meio amarrotada. Tomei coragem e entrei sentando-me na cadeira de frente para o homem. Eu disse com um ar de interesse:
_ Bom dia, senhor. Há uma vaga aqui nesse estabelecimento para auxiliar de escritório?
O homem respondeu meio sonolento:
_ Não, senhor...Aqui não há interesse de contratar auxiliar de escritório.
Insisti em questionar:
_ E para serviço de banco? Sou excelente boy,eu já trabalhei com isso.
E o homem respondeu com desdém:
_Não, aqui não fazemos serviço de banco.
Eu rebati deixando o homem mais ainda intrigado:
_ E na contabilidade? Sou formado em contabilidade, posso cuidar dos gastos e finanças.
_Não há vaga, não senhor. Nós não temos gastado, não há lucro algum.
Eu queria uma chance. E por causa disto, tendenciosamente, procurei perguntar por outro cargo:
_ E vaga para serviços gerais? Sou ótimo na limpeza, vejo que o vidro está sujo e ali atrás deve ter um banheiro como todo escritório tem, posso limpá-lo com capricho!
_Não senhor. Aqui nós não limpamos nada.
_Então se não precisa de nada, o que o senhor faz aqui?Perguntei já irritado.
Ele disse com toda paciência:
_ O que faço aqui é isso.
_Isso o quê? Perguntei.
_ Responder essas perguntas que o senhor fez em relação a vaga de emprego aqui.
_ O senhor não está falando sério! Eu disse amuado com todo aquele rodeio. E emendei uma pergunta:
_Quem é o dono disso aqui?Me fala!Eu quero falar com ele agora!
Então o homem olhou para o relógio, levantou mudo da cadeira e tirando uma chave do bolso, tranquilo indagou com a cabeça:
_ O senhor vai ficar aí? Eu vou fechar.
Eu já não me continha e gritei :
_ Não vai me responder?! Lhe perguntei, quem é o dono dessa espelunca aqui!
Ele veio calmo e disse em tom baixo:
_ Encerrei o expediente. Agora eu não respondo mais nada.
E andou até a porta me chamando:
_ Vem, eu vou trancar! Não posso trancar com o senhor aí dentro.

domingo, 8 de março de 2009


Tocar

Tocar é uma arte

a qual não se define

em meio ao sentimento.

As cordas deslizando

entre os meus dedos

e a sensação de deleite...

O som aparece

em forma de música,

cada nota com sua estrutura

atraente e ousada

chegando aos meu ouvidos.

Andréa de Azevedo.

11/06/00

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Do tempo de Mamãe

Agulha de toca disco, álbum de foto papel, negativo. Banho de mangueira, balanço de árvore, trocar de bonecas, calçarem os sapatos, valsar aos 15 anos. Viagem de trem, passeio de fusca, biquíni de bolinha, bóia de pneu. Beber Coca-cola, juntar as tampinhas, guardar os cascos. Carnaval de pá João, Carnaval de palhacinho, acabou o confete, quarta-feira de cinzas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

As vozes...

_Querer-te assim? é ...indecisão, é dura caminhada de pés descalços... (uma voz). Apelos de uma alma em ardor, dum abrasamento diante do que reluz.
Sei que não me faço compreender, vejo de perto minha angustia, minha náusea ao teimar em dizer uns instantes o que quero escrever... (essa sou eu ) . Ouço as vozes da consciência elas berram,cochicham...
Dos mundos que me cercam, grandes apelos murmuram...eu ouço as vozes, tento decifrar. As vozes? Bem, talvez entenda, deve ouvi-las também. Tem dias que elas brigam umas com as outras e estou no meio delas.
As vozes, as vozes são minhas se me passarem pelos lábios e por vezes emitirem esses
sons...tenho meu tempo interno em educá-las ou somente aguardar em breve meditações...Mas as vozes, elas às vezes não são de nada, se eu lhe dou ouvidos, caio na tentação em dizer o que não deveria.
Danem-se então essas vozes caducas presas à memória!
_ Vai, vai a festa hoje, coloque o melhor vestido. E não deixe de se maquiar, apague esse rosto angelical! (outra voz)
_ Não. E a prova que irá fazer? Precisa estudar! Volte agora mesmo para casa, não dê mais um passo! ( e mais uma voz).
_ Está perdendo a vida! Quer ficar sem saber o que é encontrá-lo de novo? (outra voz).
Me vejo nessa situação, (essa sou eu). Sem poder com essas vozes. Vão todas para o inferno! E me deixe em paz!
Se as ordeno que parem, eu fico sem saber como vou pensar...
As vozes mais difíceis de coordenar e de dá ouvidos, são as impreguinadas de emoção. Estas não querem sair e serem pronunciadas, pois o momento é de tal importância, que elas se perdem. Esses tipos de vozes me pregam cada peça...ordenam de imediato o que devo fazer...e o que devo falar e acabo obedecendo, mesmo que ainda venha me machucar (e essa sou eu) por culpa do coração.
Vozes que são minhas, vozes que não são...eu julgo as suas investidas, tomo posição com elas e diante delas. O melhor a fazer, é sentir essas vibrações que querem a todo custo percorrer a laringe. Assim ei de compor meu riso, meu canto, meu choro. Ei também de me enfurecer, ei de amar e desamar.
Ei de guardá-las, ei de dizê-las inevitavelmente, umas palavras...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Segredo

Digas em tom frêmito
soando uma nota só, um segredo.
Um segredo ao pé do ouvido
que revele o mais íntimo
sussurro cálido...

Adormece os meus sentidos,
arrasta esse rosto na minha pele...
Roça essa barba cerrada até o umbigo,
até que eu suspire e exale o seu cheiro.
Vês que sou escrava dos teus desejos.

Sinto contra o peito
o palpitar acelerado
que soa trêmulo em ti.

Réu confesso
guardas este segredo
velado em sua boca
e juras o amor que não sentes.
Pois em ti abrigas somente
um desejo que move.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Amor moribundo

Cárcere soturno.
Leito recoberto de flores.
Gestos obsessivos.
Fragmentos polidos.
Um peito contrito
Da dor da partida
Da dor não contida.
Num pousar simplório,
a mão acolhida pela máquina de escrever,
é um subterfúgio plausível
que me cabe.
Fazer-te memorável em retrato
fundo preto,
traçado este olhar tácito,
um amor moribundo
quis eu sepultar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Olá! Devido a um período conturbado, final de 2008, não foi possível continuar com esse blog. Cá estou novamente abrindo essas gavetas sem alguma pretensão de impressionar. Quero mesmo é sugerir e pensar sobre. Então, vamos! Sintam-se em casa e puxem logo essas gavetas para opinar.

Marca autoral


Muitas pessoas não dormem à noite porque tem insônia.
Ou porque estão transando, ou porque estão cutucando sua geladeira e tragando um cigarro.
Eu sou às vezes uma retardada que não dorme por causa de poesia
e acordada fico até que essas ideias me abandonem.


Núpcias

O beijo
O olhar
O toque
O corpo
Os dedos
As alças
O vestido.

O nu
O choro
A emoção
O prazer:
Os seios
As mãos
O rosto
O peito
Os cabelos
Os pés.

O lençol
O deitar
A cama
O sorrir
O ouro
O reluzente
O dedo,
O esquerdo
A um
A outro
A dois.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Uma lágrima descabida
teima em brotar à retina.
Voz perdida que se sinta
o peito abrasa
excludente chama,
convertida em cinzas.
Brisas levam as cinzas,
flores repartidas

inauguram uma dor particular.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Saiu de cena
(dedico ao JVR que por aí vaga).

Saiu de cena com meio sorriso
e um breve adeus.
A tela translucida encobriu
a imagem em movimento,
é um vento.

O quadro, já não é mais Monalisa
As traças se fartaram num tempo de cinzas.
E se fez passado:
as fotos não tiradas e os lugares
não visitados.

Mudou logo de estado,
pegou um avião
mudando o estar das coisas.
E assim, de leve na mente evasiva
uma fisionomia jamais esquecida
aos poucos se apaga.